03 January, 2009

o que é natural é bom??



É do imaginário popular que os "produtos naturais" são seguros e melhores do que os medicamentos da medicina convencional podendo ser utilizados à-vontade, sem supervisão médica e sem efeitos secundários. O surgimento do conceito de “natural” em muito contribuiu para o aumento do uso das plantas medicinais nas últimas décadas. Para muitas pessoas esse conceito significa a “ausência de produtos químicos”, que são aqueles que podem causar algum dano ou, de outra forma, representa perigo.
Nada mais enganoso, esta ideia é provavelmente resultado das campanhas publicitárias e de escrúpulos duvidosos por parte de quem os comercializa. Qualquer médico gastroenterologista/hepatologista descreve como crescente a hepatotoxicidade dos "produtos naturais" usados de forma não controlada e sendo mesmo na actualidade uma das maiores causas de alterações hepáticas sem uma patologia de base que o justifique.
A alegada ausência de substâncias activas nestes produtos não é real, aliás, é do conhecimento geral que grande parte dos medicamentos básicos foram descobertos pela acção dos componentes e dos efeitos de substâncias encontradas na natureza e só depois sintetizadas. Muitos desses produtos continuam a ser usados como "inofensivos". Repito, uma das maiores causas de efeitos tóxicos no fígado, neste momento, está relacionada com a vaga crescente -desde as antigas ervanárias aos gabinetes de estética- de "produtos naturais". Outros efeitos habitualmente não valorizados pelos doentes em tratamento de outras patologias sistémicas, são as interacções com os medicamentos clássicos, algumas já conhecidas e documentadas, outras por investigar até porque não são habitualmente referidos devido à ideia errada de que "não fazem mal"...
A produção dos ditos produtos não é controlada ou tem controlo duvidoso, e os seus constituintes não são exaustivamente estudados. Por outro lado, a concentração dos princípios activos não é standartizada como nos medicamentos e assim não é possível saber qual é a dosagem que existe numa cápsula ou numa infusão, podendo apresentar resultados diferentes do esperado acrescido de um habitual tempo de utilização ao critério do consumidor que se pode estender por anos....
Este desconhecimento por parte da população sobre efeitos secundários e toxicidade de infusões, comprimidos, óleos, cremes habitualmente utilizadas, pode levar a consequências sérias.
Algumas das referências da literatura estão relacionadas com o consumo de substâncias tão variadas como HIPERICÃO (Hypericum perforatum) , ALHO (Allium sativum) , ERVA DE S. JOÃO ( Hypericum perforatum - St. John's Wort), GINKGO (Ginkgo biloba), KAVA KAVA (Piper methysticum), CROMIUM (cromium trivalente), IPECA (Cephaelis ipecacuanha (Brot.) A. Rich.) e ARNICA (Arnica montana L.), CASCARA-SAGRADA (Rhamnus purshiana DC), arruda (Ruta graveolens), ALOE (Aloe ferox), ANGELICA (Angelica archangelica), CANFORA (Cinnamomum canphora), EUCALIPTO(Eucaliptus globulus), ALECRIM (Rosmarinus officinalis), GENGIBRE (Zengiber officinalis) SENE (Cassia angustifolia e Cassia acutifolia), concentrados de VITAMINA A, VIT. E, VIT.D etc, etc...com efeitos diversos e interacções várias.[ consulta] .
.
A reter: O uso de substâncias ditas naturais deve sempre ser referenciado ao médico assistente sem receio e no sentido do esclarecimento de futuros sintomas ou alterações em análises de rotina aparentemente injustificados pela patologia ou pela terapêutica convencional.
Este tipo de consumo actua e deve ser valorizado como um qualquer medicamento ou produto químico susceptível de provocar efeitos secundários.
Fica o alerta.

1 comment:

Fantasia Musical said...

Fiquei surpreendida com este seu texto! Ingenuamente, estava convencida da segurança do que nos é apresentado como natural. Está na hora de abrir os olhos!