02 November, 2008

Florence Nightingale



Florence Nightingale
(1820-1910)

Florence Nightingale é considerada a fundadora da enfermagem moderna. O mito da enfermeira como anjo da guarda à cabeceira do doente, protagonizada por Florence , será tipicamente uma construção social do romantismo inglês, em plena época vitoriana. Esta inglesa da upper class (classe alta) ficará conhecida então como "The Lady with the Lamp" e "The Angel of the Crimea" (Woodham-Smith, 1951).
Recordemos, entretanto, alguns dos problemas que então se punham à enfermagem hospitalar na Grã-Bretanha até meados do Século XIX, dominada pelas matrons e pelas nurses, as irmãs de caridade:
Trabalho esporádico, desqualificado, socialmente desvalorizado e mal remunerado;
Grosseira aplicação dos cuidados médicos;
Ausência de especificidade de funções e de autonomia técnica;
Condições de trabalho altamente penosas nos hospitais e nas worhouses;
Conduta pessoal reprovável (alcoolismo, roubo, desleixo, promiscuidade, etc.), tipificado na célebre personagem de Charles Dickens (1812-1870), Mrs. Sairey Gamp, no seu romance Martin Chuzzlewit, 1844);
Dificuldades de recrutamento de pessoal;
Ausência de estruturas de formação, etc.
Além de tecnicamente desqualificadas, as matrons e as nurses tinham muitas vezes um comportamento moralmente reprovável. Os livros de registo da maior parte dos hospitais ingleses da época dão-nos conta da impressionante frequência de casos de enfermeiras que eram admoestadas ou demitidas por alcoolismo, insolência, falta de disciplina, absentismo, roubo ou extorsão praticada na pessoa dos doentes.
Nightingale atacou estes problemas criando um sistema baseado na formação, no treino, na dedicação, na disciplina de ferro e na forte estratificação hierárquica, segundo um modelo misto, conventual e militar .Voltando às origens...
Florence Nightingale é mais lembrada por seu trabalho como enfermeira, porém, é pouco conhecido a respeito desta mulher notável a paixão pela matemática, especialmente estatística, e como esta paixão desempenhou um papel importantíssimo no seu trabalho.
Nasceu em Florença, Itália, de família abastada. Aos cinco anos, o pai comprou uma casa em Hampshire onde passavam os Verões.
A educação inicial das meninas ficou a cargo de professoras particulares, mais tarde a tarefa foi feita pelo pai que foi educado em Cambridge. Em 1840, Nightingale implorou aos pais que a deixassem estudar matemática ao invés de: fazer tricô ou dançar quadrilha.
Embora o pai gostasse de matemática e tivesse passado este gosto para a filha, solicitou que estudasse assuntos mais apropriados para uma mulher. Após muitas discussões emocionais, os pais de Florence finalmente concordaram e permitiram que ela fosse tutorada em matemática.
Uma das pessoas que mais a influenciou foi o cientista Belga Quetelet. Ele aplicou métodos estatísticos a dados de vários campos, incluindo estatísticas morais e ciências sociais.
Florence desenvolveu um interesse por assuntos sociais, mas em 1845 a família estava firmemente contra a sugestão dela, de ganhar experiência num hospital. Até então as únicas tarefas de enfermagem que ela tinha feito era cuidar de amigos e parentes doentes. Durante esta época a enfermagem não era tido como uma profissão apropriada para uma moça bem educada. As enfermeiras desta época além de não ter treino tinham a reputação de serem ordinárias, ignorantes e dadas a promiscuidade e bebedeiras.
Foi enquanto fazia uma viagem pela Europa e Egito, em 1849, que surgiu a oportunidade de estudar os diferentes sistemas hospitalares. No inicio dos anos 1850 iniciou um "estágio" como enfermeira do Instituto São Vicente de Paula em Alexandria, Egito, que era um hospital da igreja Católica Romana. Em julho de 1850 visitou os hospital Pastor Theodor Flidner em Kaiserwerth, perto de Dussledorf. Voltou a Kaiserwerth, em 1851, para fazer um estágio de três meses no Instituto para Diaconesas Protestantes e da Alemanha seguiu para o hospital St. Germain, próximo de Paris, que era dirigido pelas Irmãs da Piedade. Ao retornar a Londres, em 1853, aceitou o cargo, sem pagamento, de Superintendente no "Estabelecimentos para Senhoras Enfermas".
Em março de 1854 após o início da guerra da Criméia, o The Times criticou as instalações hospitalares britânicas.
Em resposta as estas críticas, o amigo Sidney Herbert, Secretário Britânico para a Guerra, solicitou, por carta, que Florence se tornasse uma enfermeira administradora para supervisionar a introdução de enfermeiras nos hospitais militares. O seu título oficial era "Superintendente do estabelecimento de mulheres enfermeiras dos hospitais gerais ingleses na Turquia". Florence chegou a Scutari, um subúrbio asiático de Constantinopla (hoje Istambul), com 38 enfermeiras em 04 de novembro de 1854.
Quando chegou a Scutari (Novembro de 1854), à frente de um pequeno exército de 38 enfermeiras, voluntárias, umas leigas e outras religiosas (católicas e anglicanas), teve que enfrentar toda a série de dificuldades: (i) a falta de recursos, (ii) a ausência das mais elementares condições de higiene, (iii) a hostilidade dos médicos e demais oficiais militares, (iv) os preconceitos do sexo masculino, (v) o crescente número de feridos e doentes vindos da frente de batalha, (vi) a indisciplina e a falta de preparação das suas nurses, etc.
É então que a culta e mística Florence vai revelar-se uma mulher com grande capacidade de trabalho, de determinação, de gestão e de liderança. É desta experiência brutal, no estrangeiro, numa cultura hostil como a castrense e, ainda por cima, no teatro de guerra, que Florence retira o conhecimento prático que lhe vai permitir criar as bases para a reforma hospitalar da segunda metade do Século XIX (incluindo a reorganização dos serviços de enfermagem).
O fato de ser mulher significava que tinha que lutar com as autoridades militares a cada passo para levar a cabo o propósito de reformar o sistema hospitalar. Com condições como soldados deitados no chão bruto, rodeados por insetos e ratos e operações efetuadas em condições anti-higiénicas, não foi surpresa que quando ela chegou a Scutari, doenças como cólera, tifo fossem comuns nos hospitais. Isto significava que soldados feridos tinham sete vezes mais hipóteses de morrer de uma doença hospitalar do que no campo de batalha. Enquanto esteve na Turquia ela reuniu dados e organizou um sistema de manutenção de registros que utilizou como uma ferramenta para melhorar as condições dos hospitais civis e militares. O seu conhecimento matemático foi fundamental para se valer das informações recolhidas e para o cálculo das taxas de mortalidade nos hospitais. Estes cálculos mostravam que uma melhoria nas condições sanitárias resultaria num decréscimo no número de mortes. Já em fevereiro de 1855 as taxas de mortalidade caíram de 60% pra 42,7%, e posteriormente, através do fornecimento de água fresca bem como da utilização de fundos próprios para comprar frutas, vegetais e equipamentos hospitalares, a taxa de mortalidade na primavera caiu para 2,2%.
Nightingale utilizou os dados estatísticos para criar o diagrama de área polar ou "coxcombs" (cristas) como ela o chamava. Eles eram utilizados para representar graficamente as taxas de mortalidade durante a guerra da Criméia (1854-56).
Não conhecia o conceito de contato por microorganismos, uma vez que estes ainda não tinham sido descoberto, porém já acreditava em um meticuloso cuidado quanto à limpeza do ambiente e pessoal, ar fresco e boa iluminação,calor adequado, boa nutrição e repouso, com manutenção do vigor do paciente para a cura.
A área de cada fatia colorida, medida do centro como um ponto comum, está na proporção da estatística que ela representa. A fatia azul externa representa as mortes: ... por doenças contagiosas (mitigáveis) tais como a cólera e o tifo. A parte vermelha central mostra as mortes por ferimentos. As partes pretas interiores representam mortes por outras causas. As mortes nos hospitais de campo britânicos atingiram o pico em janeiro de 1855, quando 2761 soldados morreram de doenças contagiosas, 83 de ferimentos e 324 de outras causas perfazendo um total de 3168.
Utilizando esta informação, Florence calculou uma taxa de mortalidade concluindo que Se esta taxa continuasse e as tropas não fossem repostas frequentemente, então apenas as doenças matariam todo o exército britânico na Criméia.
No retorno a Londres, em Agosto de 1856, quatro meses após a assinatura do tratado de paz, Florence descobriu que os soldados durante os tempos de paz, com idades variando de 20 a 35 anos, tinham uma taxa de mortalidade que era o dobro da dos civis. Utilizando, estas estatísticas, ela mostrou a necessidade de uma reforma nas condições sanitárias de todos os hospitais militares. Com a divulgação do caso, ela captou a atenção da rainha Vitória e do príncipe Albert bem como do primeiro ministro, Lorde Palmerston. O seu desejo, por uma investigação formal, foi atendido em maio de 1857 e levou ao estabelecimento da Comissão Real Sobre a Saúde nas Forças Armadas. Sem chamar a atenção pública ela voltou a atenção para as forças militares estacionas na Índia. Em 1858, pelas suas contribuições para as forças armadas e para a estatística hospitalar Florence tornou-se a primeira mulher a ser eleita membro da Sociedade Estatística Real.
Já em 1860, irá fundar a Nithghtingale School for Nurses, anexa ao St. Thomas’s Hospital, em Londres, usando para o efeito um fundo de 45 mil libras, resultante de subscrição pública aberta na sequência do seu regresso da guerra. Considerada a primeira escola profissional de enfermagem em todo o mundo, o seu modelo vai-se espalhar rapidamente pelo resto da Grã-Bretanha e do Império Britânico (Índia, etc.).
Dois princípios:
Primeiro que as enfermeiras deveriam ter treino prático em hospitais especialmente organizados para este fim. Segundo que as enfermeiras deveriam viver numa casa baseada em princípios morais e de disciplina.
As primeiras escolas Nightingale ministravam cursos de 1 ano, que, com o tempo, passaram a ser de 2 anos. Florence deu origem às prescrições médicas por escrito e, também, exigia que as suas enfermeiras acompanhassem os médicos nas suas visitas aos doentes "para prevenirem erros, directivas mal compreendidas e instruções esquecidas ou ignoradas". A seu ver, para a melhoria do estado de saúde do país, o ensino da Enfermagem era uma grande responsabilidade das enfermeiras. Preconizava a idéia de que a saúde era não apenas estar bem, mas ser capaz de usar toda a nossa capacidade." Florence julgava que o propósito da enfermagem era "colocar-nos na melhor condição possível para que a natureza possa restaurar ou preservar a saúde, prevenir ou curar as doenças". Devido a fundação desta escola Nightingale conseguiu que a enfermagem passasse de um passado desprestigiado para uma carreira responsável e respeitável para mulheres.
Florence terá dado sobretudo à ocupação de enfermagem não apenas o estatuto socioprofissional que lhe faltava como uma nova representação social. A enfermagem passaria a ser, assim, (i) uma espécie de "variante secular da vocação religiosa" e, a par disso, (ii) "um respeitável emprego para as mulheres da filantrópica classe alta vitoriana". Em todo o caso, (iii) não era ainda a profissão que conhecemos nos nossos dias.
De facto, a questão da profissionalização da enfermagem só começa a ser debatida sob o impulso do feminismo de 1ª geração (I Guerra Mundial) e, sobretudo, do feminismo de 2ª geração (a seguir à II Guerra Mundial). Na formação, embora enquadrada pelas enfermeiras, tinha um papel central a figura do médico. A dependência (e a subserviência) em relação à profissão médica reflectia-se igualmente na prestação de cuidados e na administração dos serviços de enfermagem.
No modelo de Nightingale, a enfermeira é sobretudo aquela que administra os cuidados básicos ao doente. Recorde-se que a palavra inglesa nurse vem do francês antigo nurrice (a pessoa que amamenta um bebé ou que cuida de uma criança) do latim tardio nutricia (ama, ama seca), que deriva por sua vez do latim nutrix (a pessoa que alimenta, a ama).
Curiosamente, o modelo americano também teve a sua origem na Grã-Bretanha com o movimento de Ethel Bedford Fenwick no sentido de profissionalizar as enfermeiras (no verdadeiro sentido sociológico do termo). Esses planos envolviam (i) a inscrição num organismo de controlo, autorizado pelo Estado (equivalente à Ordem dos Médicos), (ii) a separação das escolas de enfermagem em relação aos serviços hospitalares, (iii) a definição de apertados critérios de recrutamento e selecção e (iv) a eliminação da remuneração hospitalar aos estudantes (Whittaker e Olesen, 1978).
Na América a situação foi diferente e a enfermagem cedo se integrou no ensino superior universitário, autonomizando-se em relação à medicina e aos hospitais (contrariamente ao que se passou na Europa). E a prova disso foi o número substancial de enfermeiras com formação universitária, pré e pós-graduada, e com uma forte influência na administração hospitalar, nas associações profissionais bem como no ensino e na investigação em saúde.
O papel das ciências sociais e humanas na educação e formação em enfermagem também tem a ver com um ou outro modelo. Sobre o trabalho de enfermagem há, ainda hoje, duas concepções básicas muito diferentes:
Responsabilidade clínica, delegada pelo médico, na prestação diária de cuidados ao doente;
Responsabilidade autónoma pelo bem-estar físico, psicológico e social do doente.
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(consulta,
LuísGraça-Nightingale e Fenwick: As fundadoras da enfermagem moderna
Histórias e biografias)
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Abaixo uma pequena lista com links para os filmes produzidos sobre Florence Nightingale.
Florence Nightingale (1915) (Mudo)
The White Angel (1936) (Cinema)
The Lady with the Lamp (1951) (Cinema)
Florence Nightingale (1985) (Série televisiva)
Florence Nightingale (1993) (Vídeo)
Biography of the Millennium: 100 People - 1000 Years (1999) (Documentário para a TV com depoimentos da própria Florence)
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1 comment:

Samera said...

como adquiro esse filme "Florence Nightingale (1915) (Mudo)"

abraços