30 April, 2007

confusões de género




Segundo o "Sunday Telegraph" , um menino de 14 anos pode tornar-se o transexual mais jovem do mundo. O menino teria sido diagnosticado por médicos como transexual aos 12 anos. Médicos e psiquiatras concluíram que as alegações do menino de pertencer a "um corpo errado" estavam tão profundamente enraizadas que deram início a uma terapia à base de injeções de hormonas, fazendo com que Tim deixasse de entrar na puberdade como menino e começasse a evidenciar características femininas, com o desenvolvimento de seios e mudanças na forma do corpo. Essa seria a primeira parte do tratamento que incluiria, no futuro, uma operação para completar a mudança de sexo. Agora com 14 anos e oficialmente registrada como menina.
Esta notícia, lembrou-me uns discussão tida há cerca de dois anos num fórum, a propósito das diferenças e da confusão que muitas vezes se gera entre conceitos como transexualismo, travestismo, hermafroditismo e homossexualidade. Deixo então, aqui, as diferenças.
Homossexualidade
O termo surgiu no Sec.XIX e passou de pecado para crime, passando por doença, até chegar aos nossos dias como um comportamento natural, embora só nos anos 90 a OMS tenha deixado de a considerar como doença mental e considerado desadequado por parte dos profissionais de saúde que trabalham especificamente com a sexualidade, empregar os termos heterossexual e homossexual para designar pessoas: tais termos devem ficar restritos a comportamentos, já que comportamentos Hetero ou Homo exclusivos, ocupam apenas as extremidades de uma escala de frequência de comportamento bastante vasta.
O termo homossexualidade é utilizado exclusivamente para designar o interesse e a atracção sexual por indivíduos do mesmo sexo, com todas as características desse sexo.
Travestismo
O termo descreve o indivíduo que obtém prazer de caracter sexual em vestir-se com as roupas do sexo oposto ao seu. Há, portanto, homens e mulheres travestis. O fetichismo transvéstico não ocorre necessariamente com todas as roupas usadas, mas pode acontecer apenas com uma ou duas peças. A orientação sexual não tem uma relação directa com o travestismo, de modo que é incorrecto associar o travestismo ao homossexualismo. O travesti aceita bem os seus genitais(morfologicamente normais), que fazem parte do modo como obtém prazer sexual, como algo que o torna uma mulher/um homem diferente e parte do fetiche, ao contrário do Trans. Antigamente, o Travesti restringia-se unicamente a alterações cosméticas no corpo, hoje, mesmo a utilização de hormonas e aplicação localizada de silicone podem estar presentes enquanto variações que, no entanto, não classificam por si só o sujeito como um transexual.
Variantes:
Outros termos foram surgindo para designar subgrupos do Travestismo como por exemplo,
transformismo, aplicada a actores que se vestem com as roupas do sexo oposto durante a apresentação de um espectáculo. Enquanto actores e não havendo nenhum prazer sexual em vestir-se com tais roupas, torna-se uma expressão desadequada não chegando ao travestismo e nem este se enquadraria num diagnóstico de Travestismo. Claro está que, no entanto, o indivíduo pode sentir prazer sexual em vestir-se com as roupas do sexo oposto ao seu, caracterizando fetichismo transvéstico e actuar como actor transformista. Ou seja, as duas coisas podem coexistir.
Drag Queen, da cultura club dos centros urbanos: homens que se vestem de mulheres para sair e se divertirem à noite nos clubes, as Drags Queen retratam mulheres charmosas, chiques e glamorosas, sempre actualizadas diante das últimas tendências da moda feminina.
Cross Dressers, que trajam com as roupas do sexo oposto, de modo elegante, frequentam clubes próprios e assumem-se como heterossexuais.
Transexualismo
Desde os anos 80, o termo transexualidade passa a fazer parte dos distúrbios de identidade de género. Quando utilizamos o termo transexual fazemos referência tanto ao transexual homem para mulher, quanto ao transexual mulher para homem. A caracteristica dominante: O prazer do uso dos próprios genitais está presente em heterossexuais, homossexuais e travestis, os quais não negam ou repudiam o seu sexo, mas está ausente no transexual, independentemente de sua preferência sexual ser hetero ou homo. Eles negam e repudiam o seu sexo genital genético/biológico/anatómico e em relações íntimas, evitam tocar ou serem tocados nos genitais, usando recursos criativos com este propósito. É fundamental destacar a dor e o sofrimento de sentir-se preso a um corpo e situação social não condizente com seu estado emocional, que é constante e persistente, e que evolui na busca da mudança de sexo, passando pelo vestir-se e comportar-se de acordo com o outro, dando sequência a um tratamento hormonal e culminando em uma cirurgia de redesignação sexual, contra conflitos morais, religiosos, sociais, legais, etc..
Podem, no entanto, forjar uma vida de aparências que é preservada à custa de um enorme esforço emocional e frustração, um sentimento de que as pessoas que o rodeiam não o conhecem, pois não conseguem ver sua verdadeira identidade encoberta e mascarada pelo corpo que este não reconhece como adequado à sua identidade sexual. Um dos maiores pesadelos surge com a puberdade- o corpo trai a cada momento o ser emocional que o indivíduo acredita ser e que a partir daí, se afasta cada vez mais do corpo idealizado.O surgimento dos caracteres sexuais secundários, tende a marcar profundamente o adolescente transexual e gera muitas vezes forte angústia, depressão, automutilações e tentativas de suicídio decorrentes da não aceitação do sexo genético/biológico/anatómico. No transexualismo consta a ausência de satisfação sexual e a raridade de contactos sexuais. A terapêutica passa por cirurgia de reatribuição sexual, após um período de hormonoterapia enquanto assume um comportamento social característico do sexo oposto.
Hermafroditismo.
O hermafroditismo é um fenómeno geneticamente determinado durante a formação do embrião in útero, caracterizado pela presença de gónadas masculinas e femininas, possuindo tanto tecido testicular, como, de ovário. Temos ainda o pseudo-hermafroditismo(só um dos genitais é visivel) masculino- estrutura interna masculina igual ao cariotipo e externa feminina, e pseudo-hermafroditismo feminino- estrutura interna feminina (igual ao cariotipo) e externa masculina.
Diagnosticado o quadro clínico de hermafroditismo, é recomendável cirurgia correctiva. A decisão sobre a predominância do sexo interno ou externo deve levar em consideração a ocasião do procedimento cirúrgico corretivo- se este ocorrer durante a infância e antes do indivíduo começar a definir-se dentro dos padrões de masculinidade e feminilidade socialmente impostos, será dada preferência ao sexo cromossómico, adequando a aparência externa ao cariótipo e órgãos internos. Se a cirurgia ocorre em momento mais tardio, deverá predominar o sexo culturalmente aceito pelo indivíduo.
O diagnóstico de hermafroditismo exclui o de transexualismo.
É claro que dispondo de duas categorias (macho e fêmea) podemos analisar o sexo do indivíduo de vários ângulos, com o genético ou cromossómico, o gonádico,o hormonal, o morfológico ou anatómico, o emocional, o cognitivo, o comportamental, o social e o jurídico. Indivíduos com transtorno de identidade de género merecem serem tratados condignamente por uma equipe multidisciplinar que possibilite ao indivíduo aceitar-se como um todo coerente.
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(ja publicado no contracapa)
______________

Contra Capa

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