Porque temos problemas de coluna?
Rui Garganta
São vários os motivos que nos levam a ter problemas de coluna. Porventura, o mais importante está relacionado com a sua constituição.
Vejamos então: a coluna vertebral é formada por um conjunto de ossos sobrepostos que possuem, entre si, um anel fibroso que se designa por disco intervertebral. Este disco permite que a coluna realize uma série de movimentos, no entanto, tal como referimos no nº 2 desta revista (Dores de coluna quem as não tem?), a pressão sobre ele varia significativamente em função da posição do corpo.
Para além disso, podemos observar que a coluna é formada por várias curvaturas que se vão alternando para dentro (lordose) e para fora (cifose): a do pescoço (lordose), a das costas (cifose), a da zona lombar (lordose) e a da zona da anca (cifose).
A sua mobilização é feita por mais de 200 músculos que formam uma rede complexa e que permitem realizar movimentos em vários eixos e planos. Tal quantidade e complexidade confirmam a importância da componente muscular, isto é, se os músculos fossem pouco importantes não havia necessidade de serem tantos.
É importante salientar que a coluna vertebral do ser humano tem uma estrutura semelhante (número de ossos, músculos e articulações) à dos quadrúpedes (animais que se deslocam em quatro patas). Apesar disso, estes não têm problemas.
A sua grande vantagem é o facto da sua coluna não ter a pressão vertical resultante da posição bípede (de pé) e estar suportada por mais dois apoios, os quais distribuem melhor a carga sobre ela.
Esta problemática talvez seja mais fácil de entender a partir do conhecimento da sua "evolução": enquanto espécie (do quadrúpede ao bípede) e como homem (do nascimento à idade adulta).
Rui Garganta
São vários os motivos que nos levam a ter problemas de coluna. Porventura, o mais importante está relacionado com a sua constituição.
Vejamos então: a coluna vertebral é formada por um conjunto de ossos sobrepostos que possuem, entre si, um anel fibroso que se designa por disco intervertebral. Este disco permite que a coluna realize uma série de movimentos, no entanto, tal como referimos no nº 2 desta revista (Dores de coluna quem as não tem?), a pressão sobre ele varia significativamente em função da posição do corpo.
Para além disso, podemos observar que a coluna é formada por várias curvaturas que se vão alternando para dentro (lordose) e para fora (cifose): a do pescoço (lordose), a das costas (cifose), a da zona lombar (lordose) e a da zona da anca (cifose).
A sua mobilização é feita por mais de 200 músculos que formam uma rede complexa e que permitem realizar movimentos em vários eixos e planos. Tal quantidade e complexidade confirmam a importância da componente muscular, isto é, se os músculos fossem pouco importantes não havia necessidade de serem tantos.
É importante salientar que a coluna vertebral do ser humano tem uma estrutura semelhante (número de ossos, músculos e articulações) à dos quadrúpedes (animais que se deslocam em quatro patas). Apesar disso, estes não têm problemas.
A sua grande vantagem é o facto da sua coluna não ter a pressão vertical resultante da posição bípede (de pé) e estar suportada por mais dois apoios, os quais distribuem melhor a carga sobre ela.
Esta problemática talvez seja mais fácil de entender a partir do conhecimento da sua "evolução": enquanto espécie (do quadrúpede ao bípede) e como homem (do nascimento à idade adulta).
"Evolução" das curvaturas
Antes de avançarmos com alguns pormenores, importa referir que a posição de marcha vertical é uma característica exclusiva do ser humano. As drásticas modificações decorrentes da passagem à posição bípede acarretaram consigo um conjunto de alterações que passamos a apresentar.
Nos animais quadrúpedes, a coluna vertebral apresenta apenas duas curvaturas: a do pescoço ou cervical (lordose, como no ser humano, mas menos acentuada) e a dorso-lombar, que forma uma cifose. A carga sobre ela está dividida por quatro apoios (2 mãos e 2 pés) e não existe grande mobilidade cervical, visto que os ossos do pescoço são bem mais largos e resistentes do que os do ser humano. Os quadrúpedes, quando andam, procuram ter, pelo menos, três apoios no chão, o que facilita imenso o equilíbrio e reduz, em muito, a carga sobre a coluna.
Com a posição bípede, adquirida há cerca de 4,5 milhões de anos, parte das referidas características foram perdidas e outras adquiridas. Perdemos, por exemplo, alguma da estabilidade na marcha e um pouco de equilíbrio. Por outro lado, adquirimos maior alcance, visto que os membros superiores livres nos permitem realizar um conjunto de tarefas sofisticadas, mesmo em movimento. Adquirimos também um campo de visão mais alargado, pois estamos num plano mais elevado e a cabeça move-se com maior amplitude e facilidade que nos quadrúpedes.
Do nascimento à idade adulta
Na barriga da mãe, o feto está enrolado sobre si mesmo e, por isso, a coluna vertebral tem a forma de um "C". Depois de o bebé nascer, e quando começa a gatinhar, forma-se outra curvatura, a da região do pescoço ou lordose cervical.
Esta consolida-se quando a criança consegue sentar-se, gatinhar e estender o pescoço para olhar em frente. A curvatura lombar (lordose) começa a desenvolver-se quando a criança dá os primeiros passos, e torna-se definitiva por volta dos 10 anos de idade.
Pensamos que agora é um pouco mais fácil compreender por que motivo os principais problemas de coluna se situam nas regiões cervical e lombar. Estas curvaturas, as lordoses, não são de "origem", transformaram-se no processo de "evolução" filogenética e alteram-se na evolução ontogenética. Como, em termos de evolução, são as curvaturas "mais recentes" as que apresentam um maior afastamento entre os corpos vertebrais e as que permitem uma maior mobilidade, sendo, por isso, mais propensas a lesões.
Por exemplo, a lordose cervical suporta e mobiliza a cabeça, cujo peso representa cerca de 9% do peso total do corpo. Permite também rotações com uma grande amplitude, aproximadamente 180 graus, para se poder olhar para o lado. Por sua vez, a lordose lombar, curvatura do fundo das costas, tem como missão compensar a curvatura torácica (da região do peito) e suportar todo o peso da parte superior do tronco e braços.
Esta região suporta cerca de 50% de todo o peso do corpo. A título de curiosidade podemos referir que um ser humano de 70 Kg "carrega" cerca de 35 Kg na 3ª vértebra lombar.
Por fim resta-nos referir que se não tiver cuidados diários com a sua coluna, ela tem muitas razões para lhe provocar problemas. Faça exercício físico para que os músculos não deixem de fazer a sua função.
Rui Garganta Professor universitário
Antes de avançarmos com alguns pormenores, importa referir que a posição de marcha vertical é uma característica exclusiva do ser humano. As drásticas modificações decorrentes da passagem à posição bípede acarretaram consigo um conjunto de alterações que passamos a apresentar.
Nos animais quadrúpedes, a coluna vertebral apresenta apenas duas curvaturas: a do pescoço ou cervical (lordose, como no ser humano, mas menos acentuada) e a dorso-lombar, que forma uma cifose. A carga sobre ela está dividida por quatro apoios (2 mãos e 2 pés) e não existe grande mobilidade cervical, visto que os ossos do pescoço são bem mais largos e resistentes do que os do ser humano. Os quadrúpedes, quando andam, procuram ter, pelo menos, três apoios no chão, o que facilita imenso o equilíbrio e reduz, em muito, a carga sobre a coluna.
Com a posição bípede, adquirida há cerca de 4,5 milhões de anos, parte das referidas características foram perdidas e outras adquiridas. Perdemos, por exemplo, alguma da estabilidade na marcha e um pouco de equilíbrio. Por outro lado, adquirimos maior alcance, visto que os membros superiores livres nos permitem realizar um conjunto de tarefas sofisticadas, mesmo em movimento. Adquirimos também um campo de visão mais alargado, pois estamos num plano mais elevado e a cabeça move-se com maior amplitude e facilidade que nos quadrúpedes.
Do nascimento à idade adulta
Na barriga da mãe, o feto está enrolado sobre si mesmo e, por isso, a coluna vertebral tem a forma de um "C". Depois de o bebé nascer, e quando começa a gatinhar, forma-se outra curvatura, a da região do pescoço ou lordose cervical.
Esta consolida-se quando a criança consegue sentar-se, gatinhar e estender o pescoço para olhar em frente. A curvatura lombar (lordose) começa a desenvolver-se quando a criança dá os primeiros passos, e torna-se definitiva por volta dos 10 anos de idade.
Pensamos que agora é um pouco mais fácil compreender por que motivo os principais problemas de coluna se situam nas regiões cervical e lombar. Estas curvaturas, as lordoses, não são de "origem", transformaram-se no processo de "evolução" filogenética e alteram-se na evolução ontogenética. Como, em termos de evolução, são as curvaturas "mais recentes" as que apresentam um maior afastamento entre os corpos vertebrais e as que permitem uma maior mobilidade, sendo, por isso, mais propensas a lesões.
Por exemplo, a lordose cervical suporta e mobiliza a cabeça, cujo peso representa cerca de 9% do peso total do corpo. Permite também rotações com uma grande amplitude, aproximadamente 180 graus, para se poder olhar para o lado. Por sua vez, a lordose lombar, curvatura do fundo das costas, tem como missão compensar a curvatura torácica (da região do peito) e suportar todo o peso da parte superior do tronco e braços.
Esta região suporta cerca de 50% de todo o peso do corpo. A título de curiosidade podemos referir que um ser humano de 70 Kg "carrega" cerca de 35 Kg na 3ª vértebra lombar.
Por fim resta-nos referir que se não tiver cuidados diários com a sua coluna, ela tem muitas razões para lhe provocar problemas. Faça exercício físico para que os músculos não deixem de fazer a sua função.
Rui Garganta Professor universitário
1 comment:
Sei que os tempos não estão para grandes optimismos mas o futuro pode estar nas nossas mãos se soubermos exercer os poucos direitos que ainda nos restam. Aqui deixo o meu desejo de um 2012 tão bom quanto o possível.
Kaos
Wehavekaosinthegarden.blogspot.com
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