O envelhecimento da população é uma das características demográficas mais importantes do mundo ocidental. Este processo interessa a todos, penso, não só aos já idosos, mas a todos os que vêm atrás e que com eles partilham o dia-a-dia.
O relacionamento do idoso com o mundo caracteriza -se pelas dificuldades adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas; a dinâmica psíquica do idoso é por vezes exuberante, rica e complicada, num contexto dos factores que o indivíduo traz consigo, a sua constituição e, os factores que lhe são trazidos pelo destino. O equilíbrio psíquico do idoso depende, basicamente, da sua capacidade de adaptação à existência presente, passada, e das condições da realidade que o cercam. Focar-me-ia desta vez, e porque penso que poderá ser o mais incompreendido, nos aspectos da senescência directamente relacionados com o próprio indivíduo.
Os Aspectos Pessoais estão, na maioria dos casos, directamente relacionados com o que foi a sua capacidade de adaptação em idades pregressas. Se os acontecimentos existenciais eram sentidos com alguma dificuldade ou sofrimento na idade adulta ou jovem, quando a própria fisiologia era mais favorável e as condições de vida mais satisfatórias e atraentes, no envelhecimento, então, quando as circunstâncias concorrem naturalmente para um decréscimo na qualidade geral de vida, a adaptação será muito mais problemática. De qualquer modo, parece haver uma alteração estrutural na dinâmica psíquica e uma nova arquitectura afectiva distinta da anterior. A característica mais comum na senilidade é a fragilidade emocional que traduz, muitas vezes, um conflito decorrente do grande esforço interno em conseguir uma satisfação existencial e uma adaptação à nova realidade. E aqui, não são exactamente as circunstâncias ambientais correlacionadas à senilidade quem proporciona a eclosão da sintomatologia neurótica, mas sim, as condições de personalidade prévia. Outros idosos, possuidores de melhores condições de adaptação (personalidade), não manifestam transtornos emocionais diante de iguais condições de vida. É por causa disso que "se envelhece como se viveu".
De entre as funções psíquicas alteradas com e pelo envelhecimento, a afectividade merece destaque. Ou seja, a capacidade de experimentar sentimentos e emoções, no relacionamento do indivíduo com o mundo e consigo próprio. Nos transtornos degenerativos a afectividade costuma ser uma das mais precoces manifestações e geralmente traduz-se por um e 3 aspectos: exagero dos traços afectivos pre-existentes, primitivização da personalidade, ou esvaziamento.
Será tanto mais evidente quanto mais problemática tenha sido a Personalidade Pré-Mórbida. Sabe-se também, que além dos componentes da personalidade existem aspectos familiares e genéticos, ou "características familiares", atrelados às doenças degenerativas da senilidade.
Uma das alterações afectivas do envelhecimento é a Incontinência Emocional. Trata-se de uma forma de alteração da afectividade peculiar à velhice que se caracteriza pela grande facilidade de produzir intensas reacções afectivas e uma subsequente incapacidade de as controlar.
Outra alteração no relacionamento com sua história, é atribuir novos significados a factos antigos, colorindo-os com mais matizes: alegres ou tristes, culposos ou mentirosos, frustrantes ou gratificantes, satisfatórios ou sofríveis.
Por outro lado, características da personalidade anterior tornar-se-ão mais exuberantes com o envelhecimento e, se o indivíduo viveu desadaptadamente durante a idade adulta, certamente envelhecerá mais desadaptadamente ainda. Assim, pulsões e paixões reprimidas ao longo da vida encontrarão na velhice o terreno ideal para o desenrolar de um triste e amargo culto ao passado, frustrações, pecados, angústias e rancores, um "espectáculo" quantas vezes penoso para toda a família. São os idosos que começam a tornar-se mais agressivos, mais ciumentos, mais desconfiados, mais fantasiosos, mais libidinosos, mais teimosos, mais "embirrantes" e por aí fora.
Labilidade Afectiva, é também uma das transformações que nos habituamos nos mais velhos: caracterizada por mudanças rápidas nas emoções. Pode haver por exemplo, explosões do humor, manifestações de cólera, irritação ou choro fácil diante dos estímulos mais insignificantes.
Tais alterações podem ser consequentes não apenas ao psicodinamismo alterado dos idosos mas, também, às alterações degenerativas do SNC, seja do ponto de vista tecidual, seja circulatório.
Em média, o cérebro perde 5 a 10% do seu peso entre os vinte e os noventa anos. Este "encolhimento", ou atrofia, é particularmente agudo no hipocampo e nos lobos frontais. Estas alterações na estrutura e na função levam a alguma perda na função cognitiva. Por exemplo, a nossa memória episódica, que nos permite lembrar onde deixámos as chaves, por exemplo, vai piorando com o tempo. Contudo, isso não significa que haja algum problema: é uma consequência normal do envelhecimento. Executar várias tarefas ao mesmo tempo, como ouvir rádio, ler o jornal e conversar com outra pessoa, que facilmente poderá ser feito em simultâneo pelos jovens, constitui cada vez mais um desafio à medida que envelhecemos. Este declínio, contudo, pode não ser apenas devido a problemas de memória. A deterioração da visão e da audição, por exemplo, desgasta a capacidade dos idosos pensarem claramente. As pessoas mais velhas também têm tendência para demorar mais tempo a tomar decisões e a tirar conclusões. Por exemplo, os jovens, e mesmo as crianças, pensam mais depressa em situações novas.
Atenção que, apesar do exposto, cerca de 75% dos idosos retêm faculdades intelectuais normais enquanto envelhecem, ou seja, terão aquilo que consideramos função mental normal para a idade, enquanto outros desenvolverão deficiências intelectuais ligeiras (como dificuldade em lembrar acontecimentos recentes) e outros ainda, desenvolverão formas mais graves de declínio, como a demência. O que são coisas diferentes.
1 comment:
NÃO ILUDO AS PALAVRAS ELAS É QUE ME ILUDEM APENAS LHES ACRESCENTO LETRAS ELAS ACRESCENTAM-ME VIDA.
:)
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